Chove. O mundo desaba lá fora e a única coisa que consigo fazer é pensar em você. É como se eu estive reclusa no meu forte! A imperatividade da chuva poderia quebrar as janelas, formar buracos nas paredes, romper a fechadura das portas e aniquilar o telhado da minha casa, porém, nenhuma catástrofe me atingiria, pois me encontro em outra dimensão: estou presa no seu coração. O que é coração? O que é você? O que é toda essa chuva? O que é o tempo? O que
é
a distância?
Eu
honestamente não sei. Como compreender
algo
como
a chuva? Senhora que te pacifica e apavora ao mesmo tempo. Como pensar em você, sendo um completo enigma indecifrável
na
minha mente? Como amar algo
tão
desconhecido à minha natureza? Paradoxo, mistério há muito tempo passado - conheço cada detalhe impalpável. Como convencer à
saudade que o tempo não está
e
que
a distância é desprezível perto do amor compartilhado? Como coração? Cor
e
ação?
É isso?
Palavras soltas, pensamentos que vagam e atravessam a minha mente iguais a trens fantasmas sem rumo. Chove mais e mais.
A verdade chega e se veste soberana. A água escorre sem fim e traz consigo a consciência dos fatos. Os sentimentos refletem em cada gota mínima e cristalina. Os olhos medrosos a encaram, mas nada enxergam senão o outro lado da gotícula incolor. Persiste, seja intrépido! Entenda cada recheio que se esconde dentro dessa sinceridade. Abranja seu repertório e tome (re)conhecimento!
Não
fuja
mais
para
longe. Não procure mais o
sol em
busca de ofuscar-se em seus raios dissimulados. Deixe a chuva cair. Empoça o chão e a alma transcende.
Um suspiro escapa perante a concepção das sensações apresentadas.
O amor
mostra a sua face mais uma
vez
por
um momento instantâneo e, de modo abrupto, evapora. A memória perece e se escuta um barulho varialmente acelerado. Os demais sons são
abafados e lá no fundo, dentro dos olhos, ecoa
vívido e emocionado: tum tumtum tumtumtum tumtum tumtumtum tum tumtumtumtum. Quanto mais próximo e em desepero, mais forte. Porém, quanto mais perto do horizonte e em profunda dor, permance forte
– nunca susta. Não há insolvência. E
a chuva subsiste.
Paula Amorim