Nove e dezessete da manhã de um domingo chuvoso.
Acendi um cigarro e remexi o resto de café da xícara. O
cheiro do tabaco me irritava, mas ele me mantinha acordada, pensando. Já era a
terceira noite que eu não dormia. Sob a mesa: vários pedaços de papel com
anotações, o gravador ligado reproduzindo uma entrevista e um par de óculos
jogados em um canto.
Uma matéria pra escrever, deadline ao meio dia.
Eu aguardava ansiosamente o telefonema da polícia com mais
informações sobre o cadáver encontrado naquela madrugada. Mesmo depois de tanto
tempo exercendo a profissão, relatar mortes ainda era um desafio pra mim.
O café me deixara sóbria demais.
Servi-me de uma boa dose de uísque, que ao primeiro gole me
causou náuseas – meu estômago estava vazio. Há quantas horas eu não comia?
Obviamente, o álcool me deixou zonza.
Entrei em um pequeno
transe.
Quando recuperei a consciência, eu estava parada em frente
ao espelho. A imagem refletida mostrava meu rosto pálido, o cabelo preso em um
coque bagunçado e, sob os olhos, olheiras profundas e tão negras quanto o esmalte
descascado em minhas unhas roídas. O telefone tocou e o policial me disse muitas coisas, mas as palavras se bagunçaram na minha cabeça e nada mais fez sentido.
Voltei à minha escrivaninha.
Uma música tocava suavemente ao fundo, coloquei meus óculos
e beberiquei o resto do uísque. Observei rapidamente minha grande falta de organização
e percebi que o jornal de quinta-feira se escondia embaixo de uma grande pilha
de livros, puxei-o para mim.
Um choque.
Na primeira página havia uma foto desconcertante: um corpo
gélido no chão, o sangue escorrido pelo tapete, uma carta de despedida em uma das
mãos e uma arma na outra. Logo concluí: suicídio.
A vítima: EU.
Corri os olhos pela página - incrédula! Finalmente, no destaque da foto da carta de
despedida, encontrei a frase que justificava a minha morte: “A dor e a tristeza
deturpam até mesmo a mente mais sã”.
Agora as noites sem dormir e minha confusão mental faziam
sentido. Meu espírito desvairado vagava perdidamente em busca da luz.
Fascinante!! Adorei!
ResponderExcluirMuito obrigada, fico feliz que tenha gostado (:
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