É com extremo
pesar no coração que eu digo que desisto. Apesar de ser uma desistência, não é
uma desistência qualquer. Essa é uma desistência única, atípica. Não é com
gosto que desisto, mas sim com vergonha. Vergonha e tolice, por ter acreditado
que, talvez esse mundo capitalista e mesquinho, tivesse um bocado de compaixão.
Os inocentes de coração diziam-me não desista pelos motivos errados. Porém, já
não acredito ou distingo mais os motivos errados. Só há um motivo: o motivo.
E esse motivo é o motivo e ponto
final. Motivos não são passíveis de qualificação. Os motivos apenas existem
para mudar o rumo da vida das pessoas tolas. Ah, consequências motivadas são
pesarosas! Tolo, mas corajoso. Aquele que aceita seus motivos é em demasia
corajoso. Pois, além de desistir dos sentimentos e dar o braço à razão, precisa
enfrentar os palhaços do mundo e isso não soa fácil para quem é coulrofóbico.
Pior do que tudo isso é ser coulrofóbico e cinetofóbico. Oh céus, isso nunca
terá fim. Poderia permanecer aqui, já me esqueci. Não tenho mais nada para
declarar, além de palavras soltas pela minha consciência: dor, cor, sabor, feixe,
chiclete, estrela. Ainda há muito o que se falar, não agora! Quero o nada.
Paula Amorim
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