Quem sou eu

Escrever alguma coisa não é simples como parece. Um texto que através de palavras, passe emoções e sentidos, exige sentimentos. Não tem hora ou lugar para se escrever. O segredo da escrita é colocar no papel o que seu coração te diz. Nunca deixe de ouvi-lo, porque quando um coração fala você é capaz de escrever palavras que nunca poderia imaginar. O melhor de escrever é provocar a reação final no leitor. Começar um blog é extremamente monstruoso. Parece um bicho de sete cabeças! Mas, nós duas estamos aqui para desvendar esse desconhecido. Por favor, se alguém quiser ler sobre algo, dê a sugestão. Quem sabe não vira um texto interessante? Deixem comentários nos textos que gostarem e também nos que não gostarem. Não é só de elogios que o homem progride, precisamos de críticas! O blog “Weird and Greasy” nasceu para suas autoras expressarem seus sentimentos e provocarem emoções em seus leitores. Esperamos, sinceramente, que todos gostem e se identifiquem com pelo menos um texto. Aproveitem!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

inacabado

  E eu sai em desparada daquela casa. Corria mais do que minhas pernas podiam aguentar, mesmo com aqueles trajes de festas ( uma saia preta e curta combinada com um meia calca toda rasgada e minhas sandálias novas de salto alto da Juice) e todos os postes de luzes refletirem o brilho da minha blusa coberta de paetês, atravessei toda a avenida como se nunca mais fosse parar. Confesso que sentia os meus longos brincos dourados pesaram nas minhas orelhas e todas aquelas pulseiras que usava faziam um barulho que mantinha o meu ritmo constante. O meu cabelo batia contra o meu rosto e isso me irritava. Com a maquiagem toda borrada, meus olhos não paravam de escorrer lagrimas tingidas pelo meu lápis preto e quando já me encontrava distante o suficiente daquele lugar horroso, trombei em um pessoa. A principio, não a identifiquei, pois estava com os olhos embaçados, apenas um único poste ilumina aquele lugar, mas ainda era possível enxergar o seu rosto devido a quantidade de carros que ainda circulava na rua naquela hora. Então, eu encontrei os olhos assustados e ouvi a única voz que me traria paz naquele momento:                                         
  - Mel? O que você esta fazendo aqui? Esta tudo?                                            
  E não houve tempo para ele terminar suas perguntas, pois após ter se levantado eu já havido o agarrado e a única coisa que pude dizer foi para ele me tirar dali. Assim que ele retribuiu meu abraço comecei a chorar ainda mais, porém eu me senti tão segura envolvida em seus braços. Percebendo que eu não falaria mais nada, ele resolveu falar:                                       
  - Shh, Mel! Calma, eu estou aqui com você e nada, nem ninguém vai te fazer mal... você esta pálida feito um fantasma.                                                    
  Nesse momento ele me abraçou mais forte, e eu fechei meus olhos com força, já sentindo as lagrimas secarem. Realmente eu deveria estar pálida feito um fantasma ainda mais com o meu batom avermelhado. Não queria me desfazer daqueles braços fortes e quentes que me protegiam, mas sentia a necessidade de olhar nos seus olhos, mesmo assim ele não me soltou, estava me segurando pelos lados:                     
  - Me desculpe... não queria te assustar Rafael! Mas é que... (senti as lagrimas voltando) só me tira daqui, por favor?!      
  - Vou te levar para casa, vamos?        
  Ele tentou me conduzir até o carro, mas não me movi nem um centímetro. Com uma expressão de duvida, Rafael franziu sua testa e balançou os ombros, então eu tive que me explicar, antes que fosse taxada como louca por aquele pecado da humanidade:                         
  - Não posso ir para casa! Quer dizer, meus pais estão viajando e supostamente deveria dormir na cada da Mari, mas não posso aparecer lá desse jeito... não queria deixar ninguém preocupado por minha causa a toa, se é que você me entende?                           
  Ele pensou por um momento e disse:       
  - É. Uma pessoa preocupada com você já deve ser o suficiente. Entra no carro! Você pode ficar em casa essa noite. Meus pais não estão em casa também.   
  Após ouvir aquelas palavras da boca do cara mais lindo do meu pequeno e insignificante universo, poderia jurar que me derreti, pois já não sentia mais as minhas pernas. Rafael Torres estava preocupado com minha sanidade mental e Rafael Torres me levaria para a sua casa por uma noite. Entrei no carro e fiquei calada perdida em pensamentos. Achei muito generoso da parte de Rafael me deixar quieta e não me interrogar mais, pelo menos por aquele momento.                                           
  Eu e o Rafa ( nunca vou chamá-ló assim) não somos do mesmo grupo de amigos. Eu sou do grupo dos nerds descolados, apesar de não falar muito durante as aulas, gosto de conversar com todo mundo. O Rafael faz parte do grupo que se acha o dono do pedaço (mas já percebi que ele não tem uma participação muito ativa no grupo), mesmo assim ele trata todos com respeito e é um ótimo aluno. Nós somos do grupo de teatro da escola, então todas terças e quintas a tarde nos vemos para ensaiar as peças semestrais. Lógico que por ser muito bonito e ter um charme inconfundivel, ele atua os papeis principais e como sou extremamente tímida, cuido da parte do roteiro. Excepcionalmente nesses dois dias nós somos amigos. Mas bons amigos. Temos muito em comum, passamos horas conversando e dando risada, porém a partir do momento que deixamos o teatro é como se não nos conhecessemos. Fiquei surpresa por minha reação um pouco mais cedo no estacionamento e como ele reagiu a tudo aquilo. Está bem, Mel admita que o seu coração balança mais rapido toda vez que fala com ele e você fica nervosa quando ele te olha nos olhos por muito tempo. Talvez, eu goste dele...                                   
  Foi quando voltei ao lugar em que me encontrava: no carro, ao lado de Rafael Torres. Fui atraída pela trilha sonora que guiava o nosso caminho: estava tocando Bon Jovi. Não estava acreditando, ele sempre me criticou por gostar de Bon Jovi. Não poderia perder a chance de intimidá-lo.       
 - Uau! Quem é que se esconde atras de uma mascara agora?                             

 - O que foi Mel? Desculpe não prestei atenção...                                          
 - A música! Quer dizer, isso é Bon Jovi! Você sempre falou que não gostava do som e agora eu descubro que você tem um cd dele? Hum, não é muito coerente. 
 - Para sua informação, este cd é da minha mãe e ela esqueceu aqui no meu carro... Não gosto de Bon Jovi! Tem coisa muito melhor do que isso!             
  Depois dessa tentativa de diálogo frustante, fomos sem falar uma única palavra durante todo o caminho até a casa do Rafael. Pela minha visão periférica, percebi que ele me observava toda vez que tinha a chance. Ele parou o carro em uma garagem de uma casa enorme.                                                
  - Nossa! Rafael você mora aqui? Nessa casa enorme, você é muito rico... Não que isso me importasse!
  Rafael riu por causa da minha surpresa, mas logo em seguida abriu a porta do carro para mim sair e disse: 
  - Senhorita Delarte! Por favor, me acompanhe. ( ele abriu o sorrido mais bonito que eu já tinha visto).                    
  Ele abriu a porta da casa e realmente não havia uma única pessoa ali. Entrei e fui logo em direção ao piano de cauda, os detalhes maravilhosos da casa pouco me chamaram atenção. A única coisa que eu queria era tocar aquele piano maravilhoso, mas Rafa me impediu segurando minhas mãos. Olhei para aqueles olhos azuis e não tive como retrucar:                                          
  - Depois. Depois você toca. Agora você vai tomar um banho e vou te dar alguma coisa mais confortável para vestir...                                            
 Já subindo a escada, me guiando pela mão, ele me examinou da cabeça aos pés, e tenho certeza que fiquei com as buchechas vermelhas.                           
 - Não que você esteja feia. Na verdade, você está muito gata essa noite! Garanto que se aparecesse assim no grupo de teatro, conseguiria o papel principal e vários admiradores...               
 Então ele piscou para mim e entramos em um quarto. Precisava sentar se não eu desmaiaria ali mesmo. Seduzir uma garota daquele jeito deveria ser proibido.                                      
 - Mel, você se importaria se eu te emprestar minhas roupas mesmo? Não queria pegar as coisas da minha irmã... Ela fica uma fera! E acho que as roupas de um menina de 13 anos não vão servir muito bem em uma garota de 17 anos, mesmo que ela tenha apenas 1,59 como você....  
  Ok, estava sentada na cama dele, onde ele dormia. Estava no quarto dele. Apenas eu e ele. Naquela casa. Fiquei tão nervosa que nem liguei pela provocação sobre a minha altura.    
  - Hum, tanto faz.  
  - Bom, então vou te levar até o quarto de hospedes para você ficar mais a vontade. Enquanto isso vou preparar alguma coisa pra gente comer. Pode ser Mel?
  Rafael Torres sabia cozinhar? Fiquei impressionada!
  - Tá legal, mas só se eu fizer a sobremesa!     
  - Fechado (e abriu um sorriso de tirar o fôlego).
  Quando entrei no banheiro e me olhei no espelho queria me matar, porque minha maquiagem estava horrível, meu rosto parecia desfigurado. Tomei o banho mais relaxante de toda a minha vida e as roupas que ele me emprestou exalavam o seu cheiro estonteante.
  Das escadas já era possível sentir o aroma da comida: macarronada. Entrei na cozinha sem me anunciar e peguei ele de surpresa, porque estava super concentrado finalizando o molho.  
  - Quer alguma ajuda? Ou melhor, nem deveria estar aqui... Não estou estragando a sua noite? Você não tinha uma programação?  
  Ele não respondeu nenhuma das minhas perguntas, ao invés disso, apontou uma colher de molho na minha boca:
  - Prove. Veja se você gosta ou não.
  Eu provei.
  - Um pouquinho mais de sal? Talvez?
  Ele colocou mais sal e mais algum daqueles temperos verdes que parecem todos iguais, mas só quem cozinha sabe que são completamente diferentes.
  - Perfeito! Vamos para a mesa por favor. Por aqui!



Paula Amorim

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